FEIRA DO LIVRO 2019
CINEMAAUDITÓRIO BIBLIOTECA ALMEIDA GARRETT
8 a 22 de Setembro 2019 

Foi a partir de temas que norteiam o pensamento da figura homenageada nesta edição da Feira do Livro que a programação de cinema deste ano foi comissariada. Ao longo de duas semanas será apresentado um conjunto de filmes que, a partir de diferentes ângulos críticos e linguagens, desafiam alguns dos aspectos mais profundos da matriz identitária da Europa e abordam acontecimentos culturais e políticos que constituíram pontos de ruptura ética e cívica no contexto europeu (e ocidental), ao longo dos séculos. Propõe-se um programa de cinco obras singulares, amadas e até odiadas pelo público e pelos críticos, que marcam a cinematografia europeia das últimas décadas. Filmes que nos falam de fé e religião, ideias de uso e ocupação de territórios, formas de pensar e fazer política, e de expressões de sublevação e irreverência social, numa diversidade fílmica e artística que consegue ela própria sublinhar as contrariedades presentes no espírito europeu. A herança da nossa cultura, como sublinhou Eduardo Lourenço, reflecte também esta constante necessidade de revisitação e provocação, esta “cultura de inquietação…de desafio radical aos deuses como figuras da certeza”, de que os filmes apresentados entre 8 e 21 de Setembro são testemunho.

Joana Canas Marques (Cineclube do Porto), Guilherme Blanc (CM-Porto)


Domingo, 8 de setembro | 21h30

OS DIABOS
THE DEVILS 
Ken Russell
Inglaterra | 1971| DRAMA | 117′ | M/16

Sessão apresentada por: Guilherme Blanc + Joana Canas Marques (programadores)

Prémio de melhor realização no Festival de Veneza (1971) 

Passado na França católica do século XVII, The Devils – um dos filmes seguramente mais polémicos e disruptivos na história do cinema britânico, banido em múltiplos países aquando da sua estreia – denuncia as lutas pelo poder e as perversões subjacentes à estrutura da Igreja Católica. O famoso Cardeal Richelieu apoia-se nas acusações de conduta imoral do padre Urbain Grandier, encetando um plano de perseguição e condenação. Ken Russell baseia-se em factos históricos, no livro não ficcional de Aldous Huxley The Devils of Loudun e num texto teatral de Whiting, para criar um filme-sacrilégio que evidencia o problema das relações entre a religião e os eixos de poder que acompanharam a história da Europa.

Terça-feira, 10 setembro | 21h30

SOBRE A VIOLÊNCIA
CONCERNING VIOLENCE 
Göran Olsson
Suécia | 2014 | DOC | 90′ | M/12

Sessão apresentada por: Joacine Katar Moreira 

Prémio Cinema Fairbindet no Festival de Cinema de Berlim – Berlinale (2014) 

Através das palavras de Frantz Fanon em Os condenados da Terra e recorrendo a várias imagens de arquivo, Sobre a Violência explora a questão da posição europeia para com o colonialismo, e os mecanismos da descolonização. Sobre a violência, de produção sueca é narrado pela cantora Lauryn Hill. 

Domingo, 15 setembro | 21h30

NADA A ESCONDER 
CACHÉ 
Michael Haneke 
França | 2005 | FIC |118′ | M/16

Sessão apresentada por: Pedro Mexia

Prémio de melhor realizador no Festival de Cannes (2005) 
 

Centrado na história de um casal da classe média-alta parisiense e na sua angústia perante várias ameaças anónimas que vêm a receber, Caché descortina os medos da sociedade moderna europeia, relacionando as questões actuais da vigilância e da hiper-comunicação com os traumas pós coloniais de uma França ainda em digestão da guerra na Argélia, colocando em confronto uma sociedade polida, culta e cosmopolita com alguns dos maiores medos e receios da nossa contemporaneidade. Caché garantiu a Michael Haneke o prémio de melhor realizador no Festival de Cannes.

Terça-feira, 17 setembro | 21h30

ANOS DE CHUMBO 
DIE BLEIRNE ZEIT 
Margarethe Von Trotta
Alemanha | 1981 | FIC | 106′ | M/12

Sessão apresentada por: Fernando Rosas

Leone D’Oro Festival Internacional de Cinema de Veneza (1981)
 

 Anos de Chumbo é o quarto filme de Margarethe Von Trotta (1942-), conhecida nos últimos anos pelo recente documentário sobre Ingmar Bergman – a vida e obra do génio (2018) e a ficção Hannah Arendt (2012), e que fez parte (com Rainer W. Fassbinder e Werner Schroeter), do movimento Novo Cinema Alemão. O filme conta-nos a história de duas irmãs e as dificuldades das suas relações face ao contexto social e político da Alemanha do fim dos anos 70, marcado por múltiplas feridas e cisões sociopolíticas. Com Anos de Chumbo, Von Trotta foi a primeira mulher a receber o Leone D’Oro no Festival de Veneza.
esta sessão conta com o apoio do Goethe Institut.

Domingo, 22 setembro | 21h30

A ETERNIDADE E UM DIA
IA ALONIOTITA KAI MIA MERA 
Theo Angelopoulos 

Grécia | 1998 | FIC | 137′ |M/12

Sessão apresentada por: Francisca Camelo

Palme d’Or em Cannes (1998). 
 

Um dos filmes mais belos do realizador grego Theo Angelopoulos (1936-2012), com Bruno Ganz no papel de um escritor que, quando confrontado com a sua morte, inicia uma viagem existencial que se cruza com a história de uma criança imigrante ilegal da Albânia. Uma obra que apresenta uma reflexão sobre a ideia de território, a Europa e as suas fronteiras, mas também sobre a cruzada do homem nas suas contradições interiores.
ENTRADA LIVRE
Auditório da Biblioteca Almeida Garrett
Jardins do Palácio de Cristal, R. de Dom Manuel II, 4050-239 Porto
Programação: Câmara Municipal do Porto/Feira do Livro do Porto e Clube Português de Cinematografia – Cineclube do Porto
Produção: Câmara Municipal do Porto/Feira do Livro do Porto e Clube Português de Cinematografia – Cineclube do Porto 

SOBRE

O Cineclube do Porto, na sua origem intitulado de Clube Português de Cinematografia, é fundado por Hipólito Duarte no Liceu Alexandre Herculano no ano de 1945 tornando-se o primeiro Cineclube do país. Após a fundação pioneira o seu trajecto torna-se fulgurante com as suas sessões anti regime. Desde 2013 que mantém , em parceria com a DRCN, o projeto de “Cinema na Casa das Artes” com duas sessões semanais. Desde janeiro de 2023 regressa ao Batalha com as Matinés do Cineclube em sessões quinzenais aos domingos de manhã.

Trending